terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Genéricos

Este assunto chega a ser uma coisa “Delicada” de se lidar. Uma vez que envolve leis de nosso país e principalmente o poder de indústrias farmacêuticas. Mas, como todo médico, prezamos pelo bem estar de nossos pacientes e o que tenho observado nos últimos tempos deve ser levado ao conhecimento de quem possa interessar, ou seja os pacientes.
Outro dia folhei um livro de Clínica médica que um colega estava carregando. Ao ler um capítulo de Farmacologia deste livro me deparei com uma frase que me deixou intrigado. Algo que nós médicos observamos na prática clínica diária, comentamos entre nós quando o assunto genérico vem a tona e nossa obrigatoriedade legal de prescrevermos o nome genérico dos medicamentos. Lá estava escrito de forma bem clara. “Apesar da Legislação Brasileira muitos médicos se recusam a prescrever Genéricos pois sabem que este tipo de medicamento não funciona”.
O capítulo do livro abrangia exatamente os assuntos: Biodisponibilidade, Farmacocinética, Farmacodinâmica e Similares.
Um medicamento de uso oral (tomado por boca) para fazer um efeito em nosso organismo precisa ser absorvido, entrar na circulação sistêmica, a isto chamamos de Farmacocinética do medicamento. Uma vez na circulação sistêmica o medicamento age produzindo seu efeito, a isto chamamos de Farmacodinâmica do medicamento. O efeito depende diretamente da concentração sanguínea e da forma com que este medicamento é transportado dentro do sistema circulatório, a isto chamamos de Biodisponibilidade.
Assim, um medicamento para ter um efeito sobre nosso organismo deve ser absorvido, transportado e causar uma modificação sobre o alvo de sua ação para então gerar seu efeito. Para que isto ocorra é preciso que Muitos fatores sejam levados em conta no momento da fabricação do medicamento. Não basta colocar o Sal do medicamento dentro de uma cápsula e tomá-lo esperando que o efeito desejado seja obtido.
Um exemplo: alguns medicamentos são inativados pela acides do estomago e assim não produzem efeito se entrarem em contato com o ácido do estomago. Este tipo de medicamento precisa de um veículo (comprimido, cápsula) que o proteja da acides estomacal e seja dissolvido somente no intestino permitindo a liberação do medicamento em uma local onde este não seja inativo. Assim se este fator não for observado e um veículo adequado não seja utilizado na sua fabricação não adianta utilizar o remédio pois este não terá efeito sobre o organismo. Por isto as grandes empresas farmacêuticas gastam milhões em pesquisa para produzirem um remédio realmente eficaz, pois não basta colocá-lo dentro de uma cápsula ou comprimido embalar e vender.
Outra coisa que me deixa intrigado é que muitos genéricos custam mais caro que os remédios de “Marcas”. As farmácias colocam os genéricos nas prateleiras da frente e os de marca nas prateleiras do fundo. Oferecem sempre o genérico e só vendem o remédio de marca se for solicitado pelo consumidor. Acontece que muitas vezes o consumidor acredita que esta pagando menos pelo genérico quando na verdade esta pagando mais caro.
Um exemplo: Uma caixa de supositórios de glicerina genérico vem com apenas seis unidades, já um de marca vem com vinte e quatro unidades na caixa e ambos custam mais ou menos o mesmo preço. O fato esta que se o consumidor leva o genérico pelo mesmo preço que um de marca esta pagando QUATRO vezes mais caro pelo mesmo medicamento e esta sendo iludido de estar pagando mais barato. Ha casos em que o genérico é visivelmente mais caro que o de marca mas o consumidor não se apercebe do fato pois na farmácia lhe é ofertado sempre o genérico e como o consumidor tem o conceito de que é um medicamento mais barato acaba por não pesquisar os preços dos remédios de marca e com isso acaba levando o mais caro.
Algumas empresas farmacêuticas que fazem os remédios de marca também produzem genéricos. São empresas grandes que detem uma grande fatia do mercado de produtos farmacêuticos e com relação a isto não sei nem o que lhes dizer. Duas situações podem ocorrer.
1- O genérico destas empresas deveriam ser os melhores. Como são empresas grandes que produzem medicação de qualidade um genérico produzido por elas pode ser a melhor escolha para o consumidor que estaria comprando um medicamento que vai cumprir sua função, uma vez que os fatores acima relacionados foram observados na hora de se fabricar o remédio e portanto irá funcionar adequadamente.
2- Tudo o que lhes falei até agora é resultado da atuação destas empresas. Uma vez que a lei dos genéricos entrou em vigor para não perder mercado estas empresas começaram a produzir genéricos alem de elaborar “políticas” de venda que resultaram neste tipo de coisa que relatei acima, e hoje genéricos são vendidos a preços mais caros que os de marca.
Assim fica o alerta aos pacientes.
Quando precisarem de uma medicação observem bem com seu médico qual a medicação ele prescreveu, geralmente o médico possui uma gama de medicamentos em que confia. Siga as orientações de seu médico, siga corretamente a sua “Receita”.
Na farmácia compre o que esta prescrito, se for prescrito um genérico pelo seu médico pesquise se o remédio de marca esta mais caro que o genérico, nunca se deixe levar pela política de venda ou pelos balconistas da farmácia. Lembre-se o balconista vive de comissão sobre vendas e eles ganham uma boa comissão por “Vender” determinadas marcas (como disse as industrias possuem políticas de vendas), não se deixe levar por frases, “mas é a mesma coisa”.
É a sua saúde que esta em perigo, já vi muitos caso de pessoas que pioram da sua doença mesmo tomando o medicamento corretamente, assim, se não houver melhora de seu problema com o uso da medicação retorne a seu médico e lhe informe e solicite que este lhe oriente sobre a medicação correta.
Dr. Iversen Ferrante Boscoli - CRM SP 85374

Nenhum comentário: